Pesquisar este blog

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Botons para mochila pt. II


"A liberdade sempre representa um risco. O único risco do cativeiro é a liberdade."
                                                                      Gita Bellin
Esta foi a frase que ela leu naquela manhã.
Seu livrinho de frases famosas era sempre motivo de gozação dele...
Pouco importava, era divertido e às vezes inspirador.
Pegaram suas coisas, e pagaram a velhinha q os deixou acampar no quintal.
Dia longo, pararam no centro da cidadezinha e começaram seu oficio. Ela começou a embalar tons no acordeom enquanto ele afinava a flauta transversal. 
Eram 7:30 da manhã, mas aquela praça que ligava a igreja e os principais pontos de comercio daquele povoado, já estava se movimentando.
Começaram com Frunze Moarte, para animar os trabalhadores, e a si mesmos.
Logo algumas crianças, senhores, e mulheres se juntaram em roda. Uma garotinha insistia em tirar um garoto para dançar, não via que ele estava mais preocupado em olhar os músicos, eles eram diferentes, e como nunca os vira? Conhecia todos daquele lugar. Será que eles vieram para ficar? Ficou ali parado olhando. E então a menina percebeu que aquele par não ia lhe render dança. Partiu para outro.
Após dezenas de canções, conseguiram algum dinheiro, uma garrafa de cachaça artesanal e um almoço gratuito no que se parecia ser o único "hotel" da cidade. Era uma pensão/ venda/ restaurante, de uma senhora bem gorda e com higiene desconsideravel... 
Após o almoço se sentaram na praça e receberam cumprimentos de todos os que passavam.
Ele gostava daquele mundo, tudo era simples, e sendo assim, completo.
Se olharam e se gostaram mais uma vez.
Ficaram tempos ali olhando a pacata rotina de tantas vidas.
Como se os tirando de um filme, um garoto chega tímido e fica os encarando. Os dois de inicio receosos perceberam que os olhos não intimidavam, mas sim questionavam.
Ela então quebrou o silêncio de milhões de segundos. Perguntou seu nome. Mais algumas dezenas de segundos passaram sem que o garoto respondesse. 
Os três ficaram ali se olhando, seus mundos colidindo, a cultura de uns batendo com a ignorância de outro, a inocência de outro batendo com a vivência de uns. 
O garoto muda a expressão. De repente, desaba uma série de perguntas, que pela falta de segundos para dizê-las confundem-se e acabam por não perguntar nada.
O casal ri. O menino acha uma falta de educação! Sua mãe lhe ensinou que não se deve rir dos outros. E eles menos ainda! Estavam ali de passagem. Não haviam nascido naquele vilarejo. Não sabiam o nome de cada homem e mulher, cada criança, ou cachorro, burro, cavalo, não saberiam caçar passarinho como ele. E ainda sim tinham coragem de rir dele?!
Fechou a cara num segundo. 
Os dois perceberam e tentaram reatar o laço frágil com aquele pequeno homenzinho.
Ela foi buscar picolés enquanto ele ensinava o infante a entender os instrumentos.
Ao voltar ela reparou naquelas duas épocas:
O grande mostrando ao pequeno como se tocar algumas notas na flauta, o pequeno mostrando ao grande todo seu mundo de passarinhos e inocência.
Pareciam ser da mesma época, não havia mais grande ou pequeno. Eram apenas aprendizes.
O pequeno chamou os dois para jantar na sua casa. Sua mãe ficaria orgulhosa com suas novas amizades. Foram.
Divertiram-se com todas as historias que ambos tinham pra contar, os mundos tão opostos começaram a se entrelaçar.
No fim do jantar o pequeno deu ao grande seu estilingue da sorte e o grande deu ao pequeno uma pequena flauta doce de madeira.
Um estava se tornando um pouquinho do outro com esses amuletos.
Ao pegar o ônibus que os levaria à próxima parada, ela percebeu no olhar dele que sua gaiola tinha a porta cada vez mais aberta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário