Botons para mochila pt. I

Tinha 22 anos, 1,64 de altura e se julgava feliz.
Já tinha ido a festas na beira de penhascos, fumado com bichos-grilo, pegado carona com desconhecidos, acampado no quintal, sonhado em ser maior que a Terra, se tornado maior que seus sonhos.
Vira circos, teatros, danças, músicos, filmes.
E esse mundo a fascinava.
Acordeons, fumaça, panqueique, luzes, círculos, magia, sonhos, ação. Realidade.
Sua mochila passara por tantas cidadezinhas. Seu All Star por tantas enrascadas. E o cara que conheceu no supermercado, estava sempre ao seu lado.

Eles eram um casal modelo. E não, não eram certinhos e usavam aliança...
Eles realmente se amavam. Os olhares, o toque, o falar. Era tão profundo como a 4anos atrás. 

Talvez a rotina sem mesmice fosse a culpada disso.
Cada semana em um lugar diferente te faz ser mais compreensivo com as pessoas.
Crises aconteceram, claro, mas assim aprenderam a amadurecer como casal.
Sem rumo certo, chegaram a uma cidade onde estava acontecendo um festival de performances.
Passaram noites olhando corpos se desmontando em outros, coisas que eram o que pareciam não ser, mas Uma performance em especial chamou atenção daqueles dois: era uma garota. Ela dançava sozinha uma musica que não era demasiada triste, parecia uma bailarina com uma camisola transparentemente vermelha. A maquiagem dos olhos manchava sua pele branca enquanto lágrimas se misturavam com suor. Ela era muito mais triste que a musica, e seus passos eram com toda certeza mais duros do que o ritmo proposto. Ela mais que todos naquele festival transmitiu verdade a eles. Seus movimentos firmes para aquele som esperançoso que tocava e suas lagrimas para algo até que alegre passava a eles como a vida é para alguns. Como sentimentos levam as pessoas, como a realidade fica modificada por apenas um ritmo diferente.
Saíram daquela cidade com uma verdade a mais sobre o mundo nos bolsos.
E pegaram a estrada mais uma vez esperando por mais verdades...